quarta-feira, 8 de abril de 2009

Autopsicografia


O poeta é um fingidor.

Fingi tão completamente

Que a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sente bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse camboio de cordas

Que se chama o coração.


Fernando Pessoa

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